O Equador viveu um momento trágico na última sexta-feira, quando o candidato à presidência Yaku Pérez, líder do movimento indígena Pachakutik, foi assassinado em um atentado a tiros em Quito. O crime chocou o país e o mundo, e colocou em xeque o processo eleitoral que está em curso.
Pérez era um dos favoritos para disputar o segundo turno das eleições, previsto para 11 de abril, contra o candidato da esquerda Andrés Arauz, apoiado pelo ex-presidente Rafael Correa. Pérez defendia uma agenda ambientalista, anticorrupção e plurinacional, e tinha o apoio de diversos setores sociais, especialmente dos povos indígenas.
O assassinato de Pérez é um golpe para a democracia equatoriana, que já vinha sofrendo com a instabilidade política, a crise econômica e a pandemia de covid-19. O atentado revela a fragilidade das instituições, a polarização da sociedade e a violência que marca a história do país.
Quem está por trás do crime?
Até o momento, ninguém assumiu a autoria do ataque, que deixou também dois feridos: a esposa de Pérez, Manuela Picq, e o deputado Ricardo Ul Cuango. As autoridades iniciaram uma investigação para esclarecer os fatos e identificar os responsáveis.
No entanto, há suspeitas de que o crime tenha motivações políticas, e que esteja relacionado com os interesses de grupos econômicos e políticos que se opõem ao projeto de Pérez. O candidato era um crítico ferrenho do governo de Lenín Moreno, que enfrenta uma forte rejeição popular, e também do correísmo, que busca retornar ao poder com Arauz.
Pérez também era um defensor dos direitos dos povos indígenas e da natureza, e se opunha à exploração de recursos naturais em territórios ancestrais. Ele denunciou em várias ocasiões as ameaças que sofria por parte de mineradoras, petrolíferas e madeireiras, que tinham o respaldo de setores políticos e militares.
Qual é o impacto nas eleições?
O assassinato de Pérez gera uma grande incerteza sobre o futuro do Equador. O Tribunal Eleitoral Nacional (TEN) anunciou que vai manter o calendário eleitoral, e que vai convocar um novo candidato do movimento Pachakutik para substituir Pérez no segundo turno.
No entanto, essa decisão não é consensual, e pode gerar contestações jurídicas e sociais. Alguns setores pedem a suspensão das eleições, alegando que não há condições para garantir a transparência e a segurança do processo. Outros exigem a realização de uma auditoria dos resultados do primeiro turno, que foram questionados por Pérez antes de sua morte.
Além disso, há o risco de que o assassinato de Pérez provoque uma escalada de violência no país, especialmente entre os seus apoiadores e os seus adversários. O clima é de tensão e indignação, e há chamados para manifestações nas ruas. O governo declarou estado de emergência e mobilizou as forças de segurança para evitar confrontos.
Como reagiu o mundo?
O crime contra Pérez gerou uma onda de repúdio e solidariedade internacional. Diversos líderes políticos, organizações sociais e organismos internacionais condenaram o atentado e pediram justiça para o caso.
Entre eles, estão o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, o alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, o presidente da Bolívia, Luis Arce, o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e a ativista ambiental sueca Greta Thunberg.
O assassinato de Pérez também chamou a atenção para a situação dos defensores dos direitos humanos e do meio ambiente na América Latina, que sofrem constantes ameaças e ataques por parte de grupos poderosos. Segundo a organização Global Witness, a região é a mais perigosa do mundo para esses ativistas, que lutam por um mundo mais justo e sustentável.